Intercambio sem Subemprego


Ivan Moreli foi transferido por sua empresa para uma vaga na Inglaterra Nathalia Daguano

Milene Destro arriscou em subempregos até ter condições de fazer um curso superior 

Imagine sair do Brasil para trabalhar em outro país com direito a salário fixo, ajuda de custo diário, carro, acomodação e todos os gastos inclusos. O estudante de engenharia e Cad designer Ivan Moreli teve a oportunidade dos sonhos de muita gente. Moreli trabalhava no desenvolvimento produtos conjuntamente com a sede de sua empresa, mas a troca de informações era lenta devido à distância. Foi então que o convidaram para finalizar o projeto na Inglaterra, país em que sua empresa está sediada. E foi com essa oportunidade que ele resolveu abrir mão de tudo e embarcou no dia 11 de junho deste ano para uma nova experiência. 


Assim como muitas outras pessoas, Moreli já pretendia fazer um intercâmbio, mas seus planos estavam ligados ao término da faculdade. Ainda assim, ele não pensava em procurar um subemprego apenas para se manter no país. Para ele, após investir tanto no curso universitário, o mais sensato seria tentar uma colocação já na sua área de formação. "Os brasileiros que estão em subempregos sempre reclamam, mas não querem voltar para o Brasil por causa do dinheiro. Na realidade eles não ganham nada. Todo o dinheiro é destinado ao pagamento de contas", acredita Moreli. 

Mas ele adverte: para conseguir um visto de trabalho é muito difícil e na maioria das vezes é necessário já ter uma empresa envolvida. Moreli explica que não é fácil sair procurando emprego no exterior, por isso é muito melhor enviar currículo pela Internet, principalmente em países que tenham poucos profissionais em sua área de formação. 


Para a professora Suzana Queiroz Monteiro, presidente do FAUBAI (Fórum das Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais) e coordenadora de cooperação internacional da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), quando se está na fase universitária existem diversas alternativas para os estudantes. Dentro de algumas universidades há convênios com instituições de outros países em que além de estudar há a oportunidade de estagiar em sua área de formação. "É uma forma de ganhar experiência profissional, que irá ajudar na hora de procurar por emprego", afirma Suzana. 


Segundo Suzana, a facilidade em se fazer um intercâmbio pela universidade estaria então no fato de não interromper a vida acadêmica. Mas deixa claro: "trabalhar e estudar ao mesmo tempo em um país estrangeiro é o mesmo que dobrar a carga". Para a presidente do FAUBAI, os demais intercâmbios também são importante fonte de conhecimento. Suzana acredita que mesmo um subemprego pode ser interessante por exigir do profissional novas responsabilidades em uma vivência fora do ambiente familiar. E muitas vezes são também o primeiro salário recebido pelos estudantes. 


Na vida da analista financeira Nathalia Daguano, o subemprego foi o ponto de partida, mas ficou para trás quando ela decidiu abrir mão de tudo para procurar uma experiência no exterior dentro da sua área de formação. Durante todo o período universitário, ainda no Brasil, Nathalia procurou experiências que ocupassem suas férias escolares. No último ano, Nathalia já havia conseguido um estágio e tinha o compromisso de sua empresa que seria promovida a trainee. 


Por meio de um convênio entre a CI (Central de intercâmbio) e o CIEE (Centro de Integração Empresa Escola), ela concorreu com profissionais do mundo todo e conquistou a oportunidade de participar de um programa de trainee em uma empresa nos Estados Unidos. Junto com o programa, ela teve que enfrentar um dilema: largar mão de tudo e encarar o desafio? O grande medo de Nathalia era se deparar novamente com um emprego em que ela não aprofundasse seus conhecimentos. 


Nathalia deixou o medo de lado e enfrentou o desafio. Sua insegurança logo passou e após um grande aprendizado, ela já se sente mais preparada para cursar uma pós-graduação. "A remuneração é ruim. Não compensa vir pensando em um salário melhor. Não há diferença de salário entre o trainee do Brasil e o daqui", adverte Nathalia. Atualmente ela mora nos Estados Unidos e acaba de renovar seu contrato, que era de seis meses, por mais um ano. 


As oportunidades no exterior podem ser não somente no campo de trabalho, mas também uma saída para quem procura uma especialização. "Tudo o que tenho agora é em relação a minha viagem. Fiz minha faculdade de administração na Austrália e hoje trabalho com comércio exterior", conta a administradora Milene Destro que, aos 18 anos, sem saber uma palavra em inglês, arrumou as malas e foi para a Austrália. 

Sua primeira atitude foi comprar um dicionário e se matricular em um curso de inglês. Mas após dois meses ela resolveu se mexer e procurar emprego. Sem formação superior, só encontrou vaga em um restaurante italiano, em que trabalhou durante seis meses. 

Com o dinheiro que juntou neste período, viajou nas férias para Indonésia e a Tailândia. Ao voltar conciliou o trabalho - desde lavar carros até faxineira em hotel - e os estudos e até que se formou em administração em um curso de dois anos. 


Milene Destro arriscou em subempregos até ter condições de fazer um curso superior Ao voltar para o Brasil, as portas já começaram a se abrir e Milene conquistou um emprego na IBM, onde trabalhou por 18 meses. Após esse período, resolveu pedir demissão e ir fazer um curso na Austrália, onde conseguiu um emprego na área e com um salário compatível.

Por não ter visto de trabalho, foi obrigada a mudar de empresa diversas vezes, mas o salário era suficiente para dar a ela uma vida estável. Na Austrália, o salário mínimo é 12 dólares a hora, e no começo era esta a média que ganhava. Com melhor formação e trabalhando na área que tinha interesse, o salário variava entre 28 e 39 dólares a hora. Atualmente ela mora no Brasil, mas é com a experiência conquistada na Austrália que atua como autônoma na área de comércio exterior. 


Sem gastos A melhor saída para não enfrentar as adversidades do mercado é viajar respaldado por uma instituição de ensino, segundo o assessor de intercâmbio internacional e professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) José Niraldo de Farias. Esta alternativa permite que o estudante se concentre em sua formação, ao mesmo tempo em que não terá gastos, não sendo assim necessário procurar um emprego para manter sua estadia. "A essência do intercâmbio é o estudo", afirma Farias. 


Neste contexto, Farias explica que as instituições de ensino possuem um papel importante na conscientização do aluno de que é importante a participação em programas de intercâmbio desde que ele viva dignamente. Essa conscientização é importante inclusive para a universidade, pois estes programas fazem parte do chamado processo de mundialização, que segundo Farias é a formação de profissionais com perspectivas de mais de uma nação, com conhecimento de novas culturas e que alteram a mentalidade dos alunos. "Hoje em dia o cidadão brasileiro é um cidadão do mundo. Ele não se preocupa só com problemas do país, mas com o mundo como um todo", afirma.


Fonte: Universia.com.br Materia de 09/10/2008

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